quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Puna-se os culpados. Mantenha-se a luta

Sempre tive certa precaução em criticar o MST enquanto movimento social. Acredito que os movimentos sociais são parte de uma democracia, especialmente na vigência de um sistema capitalista. Acredito ainda que a única forma que certas camadas socias, especialmente as mais marginalizadas, tem de "ser vista" é quando ocorre a ruptura da ordem. Romper a ordem é elemento fundamental para que qualquer movimento social tenha chance de que seu pleito seja atendido. Veja bem: Se trabalhadores insatisfeitos com seus salários reclamarem com o chefe e continuarem trabalhando normalmente jamais serão atendidos. Contudo, ao deflagrar um movimento paredista a possibilidade de sucesso cresce sensivelmente. Ou seja, é parte das reivindicações sociais a "ruptura da ordem".
Ocorre que esta ruptura é uma linha tênue entre o objeto do movimento e a marginalidade. É fundamental que se respeite a liberdade alheia o máximo possível dentro de um sistema de compensação entre a ruptura e a preservação daqueles que em nada podem contribuir para a situação. Assim, sou contra que se feche rodovias ou vias públicas, especialmente àquelas que são caminhos para hospitais, por exemplo.
As formas de reivindicações adotadas pelo MST fugiram do nobre fim que este movimento poderia se dedicar. Invadir áreas improdutivas, expondo o pouco caso com o uso social da propriedade é válido. Agora, invadir áreas produtivas, destriuir plantações e bens, furtar objetos não pode ser entendido como forma de se obter visibilidade para a sua causa, por mais nobre que seja. Fazer tais atos é praticar crimes. Fazer tais atos retira qualquer legitimidade que um movimento social pode vir a ter e põe a população ao lado dos governos, justificando atitudes autoritárias e desproporcionais por parte do aparato estatal.
As ações de destruição promovida pelo MST contra a fazenda da multinacional Cutrale devem ser apuradas e seus autores devidamente responsabilizados. A impunidade que se esconde junto ao MST precisa acabar para que o MST não acabe.
Agora, pregar o fim do Movimento sob a alegação de que lá se escondem bandidos e "atoas" é desconhecer a realidade de milhares de famílias brasileiras. O déficit habitacional é uma perversa realidade brasileira. Se alguém acha que ser um "sem terra" é fácil passe um dia em um acampamento pra ver a vida daquela gente. E mais, falam como se só no MST houvesse bandidos. Alguém acredita que na OAB, os Conselhos de Medicina, a Mídia são composta apenas por pessoas éticas ou trabalhadoras?
Acontece que boa parte desta mídia, liderada por latinfundiários, aproveita-se de um momento para fazer valer seus "valores"e pregar a idéia de que os movimentos sociais são coisas de marginais. Não. Os movimentos sociais fazem parte da democracia. Os seus excessos devem ser punidos como qualquer excesso, contudo sem nunca tirar a legitimidade de qualquer manifestação social. Não devemos nos esquecer, jamais, que toda a conquista obtida pela humanidade foi precedida de luta, sangue, discriminação. Se hoje podemos debater assuntos com liberdade, devemos agradecer a milhares de brasileiros que brigaram pelo direito de "falar". A batalha pela reforma agrária é justa, válida e legal. Isso não podemos nos esquecer. Que se puna os culpados, mas jamais tire do povo o poder de reivindicar.

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