terça-feira, 27 de outubro de 2009

As drogas e o romantismo em debate

Ontem, via Twitter, observei um debate sobre as drogas, especificamente no tocante a seus reflexos sociais e o que leva a grande massa de pessoas a fazerem uso de substãncias entorpecentes. A discussão, importante por sinal, logicamente, até mesmo pelo limite de 140 caracteres, foi extremamente superficial. Até aí tudo bem. Contudo, algo me chamou atenção aos argumentos dos debatedores: excesso de romantismo. Para um deles especificamente, se a criança tivesse condição de "sonhar" o problema das drogas estaria resolvido. Ledo engano. Romantismo puro...
A questão das drogas deve ser debatida como um sério problema, que vem corroendo as bases sociais. Interessante também observar que as drogas, diferentemente do que foi concebido na discussão de ontem, atinge sim as classes mais abastadas. Acreditar que oferecer sonhos as crianças é uma forma de combate as drogas é esperar que Papai Noel traga os presentes de Natal. Uma criança, filha de família rica, tem muito mais que sonhos. Este sonho pode em ser doutor ou traficante, o que deixa de ser sonho. Uma criança, filha de família pobre, sonha. Este sonho pode em ser um doutor ou um traficante, o que não deixa de ser sonho. Apenas o status social a diferem. Ou seja, o sonho em nada muda a realidade das drogas.
O problema das drogas passa pela restrição dos valores morais, pelo excesso de valorização do individualismo (indivíduo, ser social, como fim em si mesmo e não como integrante de uma comunidade), pela classificação das pessoas apenas pela possibilidade de consumir, pela falência da família como primeiro ente a impor limites a atitude de uma pessoa, pela péssima distribuição de renda, que põe a margem da sociedade os que não podem consumir (olha o capitalismo aí de novo). pela falência estatal e pela impossibilidade de uma perspectiva de vida justa e muito mais.
O caso é sério e cruel e deve assim ser enfrentado. Utopias desviadas em nada ajudam ao debate.
Ademais, há que se observar que a parte visivel do uso de drogas atinge especialmente as classes mais pobres. São eles os flagrados em situações humilhantes nas ruas. São eles alvos de traficantes que cobram com a vida os débitos das drogas. São eles que estão expostos nos programas policiais e nas capas de jornais. Daí vem a sensação de violência acarretada pelas drogas.
Entrento, a realidade não é apenas esta. O pobre traz a sensação de violência, pois não tendo como manter o próprio vício, vai às ruas para "conseguir dinheiro" para a compra de drogas ou para fazer um "emprestimos"nas bocas de fumo, sendo alvo em caso de não pagamento. Enquanto isso, o rico, em condiçoes de manter o vício, é tratado com status que seu poder de consumo lhe determina, bajulado pelos meios de comunicação. Entretanto, espacam prostitutas, as próprias mulheres, praticam crimes, tais como os pobres, mas não são alvos dos programas policiais muito menos das capas de jornais. Aí, pensa-se: a droga repercurte negativamente apenas nas classes baixas. Mentira. A droga destroe os laços familiares, seja esta rica ou pobre. A droga cobra do usuário seu preço, seja ele rico ou pobre.
Enfrentar as drogas é enfrentar a falência familiar, a falência estatal e a falência social. Solidariedade, compaixão, amor. O resgate de valores éticos mínimos é outra arma forte. . Entretanto, temos questões culturais envolvidas no uso das drogas, o que faz necessário um engajamento social para debatermos o assunto. A solução não é única. Cada grupo social envolvido com droga deve ser visto de forma peculiar.
Enfim, o problema é sério e de difícil deslinde, e não é com a propositura de sonhos que vamos resolvê-lo. Contudo, pode ser um questão de escolha. Veja a excelente animação abaixo, ponder e escolha qual caminho a seguir.



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